Perspectivas para o Ano de 2022
por Mãe Márcia d’Oxum

 

Orixás Regentes: a continuidade da proteção de Xangô, Oxóssi, Oxum e Iemanjá

Xangô mantém sua presença entre nós no ano que se inicia, ao lado de Oxóssi, Oxum e Iemanjá. Afinal, há ainda um rastro de profundas injustiças que necessitam de sua intervenção em um ciclo que ainda não se completou. Como um vulcão em atividade, Xangô se mantém altivo e vigilante, atuando para mudar as estruturas sociais tão desiguais. Seu Axé nos acompanha há alguns anos e a Ele agradecemos por isso. Xangô também traz o brado e a alegria incandescente da vida. Justiça que precisa ser feita. Vida que pulsa. Que possamos aprender com os Orixás, que se unem para nos defender e proteger. Que possamos praticar o mesmo entre nós para combater a morte e celebrar a vida.

Que venha 2022, ano que traz o forte simbolismo da flecha assertiva de Oxóssi, Orixá que apoiará a humanidade na busca de um caminho de saída para tantos desafios, escassez e adversidades. O enfrentamento que Oxóssi fará das incertezas e dos obstáculos do novo ano ao nosso lado inspira a luta com alegria, foco, determinação, entusiasmo e esperança, ingredientes fundamentais para que não nos desesperemos e possamos nos integrar, nos solidarizar com nossos irmãos e nossas irmãs, unindo forças para superar as dificuldades e continuar nos permitindo o contentamento com a simplicidade da vida.
Oxóssi nos traz a energia da fartura e da prosperidade em seus sentidos mais profundos. Assim, é fundamental que estejamos atentos e conectados com a prosperidade material, para que cada um de nós, inserido em seu coletivo, em sua comunidade, possa garantir o sustento e os meios para a sobrevivência para si mesmo e seu grupo, mas, acima de tudo, a prosperidade de bons sentimentos, bons pensamentos, bom caráter e a prosperidade espiritual.

A caça, sempre associada ao Orixá Oxóssi ou Odé, o caçador, significa, além da possibilidade de prover e de repartir com o seu povo a comida que alimenta o corpo, o que é uma mensagem muito forte neste momento em que a fome volta a aterrorizar tantas pessoas em nosso país e mundo afora, ameaçando a vida, representa também a caça por si mesmo, pelo autoconhecimento, o que abrange o conhecimento acerca da própria origem e o desenvolvimento da consciência da vida integrada com outros seres vivos, humanos, animais, plantas, florestas. Quem sou eu? E mais além: quem sou eu neste mundo, integrado com todos os demais seres e com o planeta? Essas são questões fundamentais sobre as quais deveremos refletir para nos inspirar a encontrar as saídas necessárias para tantos dilemas pessoais, sociais, ambientais e globais. Isso requer corresponsabilidade em relação à geração dos atuais problemas que ameaçam a vida na Terra e também em relação à construção das soluções, as quais devem ter um sentido coletivo.

O silêncio, o medo e a angústia de uma luta do ego, individualista, esvaziada do sentido humanitário e das coletividades, deve ceder espaço ao posicionamento audacioso, de cabeça erguida, imbuído de vigor e coragem. Que nos lembremos da filosofia Ubuntu (eu sou porque nós somos). É necessário soltar a voz, fazer-se ouvir, para chamar e reunir pessoas em busca de soluções coletivas inteligentes, de forma colaborativa. A rica noção de Àjọ, o ajuntamento ou a reunião de pessoas para produzir algo ou gerar uma solução, está em linha com um ano regido por Odé. Silêncio só se for aquele vinculado à reflexão, à importância de colocar a cabeça e os pensamentos no lugar para resistir e persistir, à paciência, ao tempo necessário de espera e à estratégia. Oxóssi é uma poderosa e mística resposta de vida. Ele desconhece a morte. Seu alvo é sempre a vida.
Nossa mãe Oxum também trabalhará para nos livrar das armadilhas do caminho, afastando o aje, a negatividade, o feitiço, e nos dando o colo de que tanto precisamos.

Iemanjá, Iyá Orí, a mãe das cabeças, estará igualmente presente em 2022, ao lado de Oxum, para nos conceder equilíbrio mental e emocional nessa travessia. Que Iemanjá nos proteja de armadilhas do nosso próprio Orí, do autoengano, das traições, das interpretações equivocadas e manipulações emocionais de quem não nos quer bem. Que tenhamos Orí saudável e forte o suficiente para nos prevenir de diferentes tipos de ciladas e negatividades, as que vêm de dentro de nós mesmos ou de fora, de outras pessoas ou de circunstâncias extremamente difíceis. Que o desespero e a desesperança não nos confundam nem nos preguem peças, nos deixando vulneráveis emocional e espiritualmente.

Essas duas mães ancestrais trazem os cuidados, a esperança, o amor, o conforto, nos dando serenidade e autoconfiança para passar pelos desafios do novo ano como as águas, ora turbulentas, ora tranquilas, em fluxo. Suavidade e força. Precisaremos desse alento, desse cuidado e da habilidade de saber fluir como correnteza na travessia que realizaremos. Que também sejamos cuidado para nós mesmos e para quem estiver ao nosso redor, cultivando amor, fortalecendo redes de apoio. Oxóssi é uma resposta de vida. Oxum e Iemanjá, que geram a vida e simbolizam a fertilidade, a maternidade, o poder feminino e o amor, são também respostas de vida e à vida. Lembremos que cuidar de si, do próprio Orí, e cuidar do outro, requer também elevados níveis de consciência e responsabilidade por si, pelos problemas gerados com os outros, nas relações, na sociedade, no planeta, no meio ambiente, e, principalmente, pela geração das soluções.

Oxóssi desconhece a morte, mas não perdoa erros com as matas, com as florestas, com os animais e as diferentes formas de vida. Matando, agredindo e desrespeitando matas, águas, ecossistemas, bichos e gentes, é como se nos afastássemos cada vez mais de Oxóssi e de todos os Orixás, pois estamos exterminando as suas fontes de Axé, onde habitam, como se manifestam entre nós e o que são. Destruir florestas, por exemplo, equivale a agredir e a desrespeitar Oxóssi, a matar a sua relação conosco. Oxóssi avisa sobre os cuidados com as armadilhas da vida e nos alerta para que nosso planeta se torne de verdade Ilé Ifé, a Casa do Amor, e não a casa da morte, da mesquinharia, do egoísmo, da falta de caráter e de escrúpulos. Que sejamos agentes propagadores da vida, do amor e da solidariedade, com muita consciência, equilíbrio e firmeza, e que possamos mentalizar e materializar em nossas atitudes o seguinte pensamento: entre nós, nada de perdas, nada de ruim. Axé pupó para todos! Oke Aro! Viva Oxóssi!

Por Mãe Márcia d’Oxum (31/12/2021)